quinta-feira, 5 de setembro de 2013

THE BAITTOLL'S

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THE BAITOLL’S – A banda de Rock de Mateus.

Por Daniel Pablo
Direitos Reservados


- Porra! O que será que aconteceu? Ele tá demorando muito! – se perguntava Paul, enquanto andava de um lado para outro.
A banda estava na véspera de sua grande estreia, um grande público os aguardava, por isso a grande ansiedade do líder e idealizador do conjunto. Ser um rock star foi a solução encontrada por ele para por fim a sua abstinência vaginal. A ideia surgiu depois de ter assistido ao filme “Quase famoso”, na qual é mostrado os bastidores de uma banda de rock, com ênfase nas drogas e principalmente na pegação. Então o caminho era este, uniria as coisas que adorava: música, drogas e as tão desejadas garotas. Chamou três amigos e pós os planos em execução, mas neste dia o principal vocalista tardava em aparecer.
- O que será que aconteceu com John? – falou Paul, quase chorando.
- Larga de ser chiliquento, daqui a pouco ele aparece – repreendeu Harrison.
- É isso mesmo, vamos aqui ensaiando enquanto ele chega – apoiou Starr.
As reprimendas dos companheiros surtiram efeito. Ele se acalmou e deu inicio aos ensaios. Consigo pensava que tinha que aproveitar aquela chance. Tinham ficado um bom tempo sem treinarem por falta de espaço. Antes os ensaios eram na fazenda de seu pai, mas a barulheira incomodava os animais, razão porque não puderam continuar no campo, além disso, o fazendeiro desconfiava que era a zuada dos rapazes que estaria fazendo com que as vacas dessem leite azedo, prejudicando o principal negócio da família: venda de leite com água. Agora tocavam no quintal da casa de Paul. E foi difícil conseguir esta oportunidade, era um sábado, a mãe estava na Igreja Adventista, o pai não escuta muito bem, e a irmã, que sempre o perseguiu estava viajando, não estaria lá para reclamar e encher o saco. Então, som na caixa.
Estavam os três nos acordes de Across The Universe, quando a harmonia foi quebrada pelo berro de alegria e indignação de Paul:
- John! Finalmente apareceu! Onde o rapazinho estava?
- Vei, desculpa o atraso, tava com minha namorada.
Esta resposta fez o sangue de Paul ferver, John chega atrasado no derradeiro ensaio, além de ter faltado a alguns outros no Achado. E tudo por culpa da namorada. Tudo bem que o cara tem que dar uns beijinhos, isso era inclusive o grande motivo porque fundara os Baitoll’s, mas tem que saber dividir as coisas, ser solidário com os companheiros ainda encalhados no caritó.

- BAITOLL’S, BAITOLL’S, BAITOLL’S, BAITOLL’S – gritavam os fãs diante da demora do inicio da apresentação. A atração anterior já tinha recolhido seus instrumentos a 40 minutos, mas nada de Paul e cia subirem ao palco.
- Caras, vcs vão começar o show ou não? – berrou o empresário na porta do camarim.
- Vamos sim – respondeu Paul - só estamos esperando John chegar.
Paul estava nervosíssimo com a estreia, ansiedade exponenciada pelo novo atraso de John. Para se acalmar, bebia doses e doses de whisky Drulys, mas não adiantava.
Na plateia, os fãs (na verdade uns amigos que foram lá porque Paul implorou) ameaçavam ir embora, quando repentinamente o locutor apresenta os músicos:
- Atenção galera, com vocês: John Lennando nos vocais e guitarra rítmica, Tales Psicopata Harisson na guitarra solo, Duca Starr na batera, e por último, mas bem menos importante, Paul Macteus nos vocais e no violão de babaçu com uma corda só! São os THE BAITOLL’S!

O show, por incrível que pareça, foi um sucesso. No outro dia só se falava nisso na cidade de Irecê, sendo inclusive tocada nas rádios algumas das canções apresentadas pelos rapazes. Os meios de comunicação locais elogiaram muito a banda cover dos Beatles. Outros shows foram realizados, e em cada um deles o público (o público de verdade, e não os amigos) crescia. Aumentava também o reconhecimento da crítica especializada. Até mesmo Antônio Neto deu o braço a torcer e elogiou os Baitoll’s.
Mas Paul Macteus não estava satisfeito, para ele ainda faltava algo, a companheira com quem sempre sonhara, a sua musa sempre imaginada mais ainda não conhecida. As garotas agora falavam com ele, pediam autógrafos, tiravam fotos, mas nada de beijos. Essa sensação era agravada pelo fato de seu parceiro John Lennando estar curtindo um romance sólido e duradouro. Paul Macteus se perguntava o porque de tal discrepância, ele só e John com uma ada. A conclusão que chegou foi que o amigo estava aparecendo, brilhando mais dos que os outros membros, e isso não podia acontecer, a banda era de Paul, ele idealizou e começou tudo, pediu um empréstimo para comprar os instrumentos, mandou fazer roupas idênticas as usadas pelo quarteto de Liverpool, mas quem se destacava era John Lennando. Uma rivalidade foi crescendo no peito do Baittoll Líder, iria dar a volta por cima, no próximo show ele iria colocar as coisas no lugar.
Só que isso não aconteceu, na apresentação realizada no Festival UnderGround Music das Caraíbas, John simplesmente não apareceu, e o que seria a chance de Paul Macteus se firmar na banda se transformou em um pesadelo para o mesmo. John Lennando era o vocalista principal, era o responsável pela maioria das canções. Paul Macteus também cantava, mas não tinha ensaiado a parte do companheiro, só John sabia dublar o John, o verdadeiro John Lennon, Paul Macteus era um dublador inferior – sim gente, nosso amigo metia um play-back nos shows, na maior cara dura, não acredito que alguém pensou que Mateus e cia tocavam alguma coisa. Mas voltando a história, sem muita confiança em substituir Jonh, Paul Macteus pegou o pen-driver onde estavam as canções, e excluiu as que eram incumbência do amigo, deixou somente as que cantava sozinho, poucas na verdade, e como o show duraria cerca de 1 uma hora e meia programou o seu mídia player para executar as faixas varias vezes. Resultado, o show foi um fracasso, foi muito repetitivo, o público vaiou, tacou pedra, e no dia seguinte a crítica meteu o pau, insinuando inclusive a fim do grupo, e a saída de John Lennando que seguiria carreira solo. O não comparecimento deste foi um prato cheio para a impressa sensacionalista que chegou ao ponto de inventar factoides dizendo que o vocalista estava insatisfeito com mediocridade dos outros músicos, que a imperícia destes impedia John de alçar voos mais altos. Nada disso era verdade, John simplesmente não apareceu porque, mais uma vez, estava jantando com a namorada.

No outro dia, Paul Macteus acordou com uma baita ressaca, a leitura dos jornais, que sua irmã tinha deixado propositalmente em sua escrivaninha, o tornou mais amargo. Sabia que tinha sido deixado na mão, mais uma vez, por causa do enlace de John. Estava disposto a encerrar a carreira, aposentar de vez sua viola de uma corda, mas uma visita o anima novamente.
- Din, don! - John toca a campainha, Paul Macteus atende, e ao ver o amigo dispara sua metralhadora de mágoas:
- Onde você estava ontem ????????????? Se esqueceu do show, porra??????????????
- Agora todo mundo ta metendo o pau na gente. E principalmente em mim, enquanto você fica lá namorando, o Paul Teteu aqui fica se fudendo. O show de ontem era para ser de arrasar, agora todos estão rindo e me colocando apelidos, é Paul Macaco, Paul no cú de Macteus, é Paul Merda, é PM pouca merda. Estão todos zoando com a minha cara, a imprensa, a crítica, os bacacas do Pinka Fode (banda cover do Pink Floyd e rival dos Baitoll’s), Carla, Antônio Neto, até mesmo nós, os amigos, estávamos rindo.
O desabafo durou cerca de meia hora, e a tudo John Lennando ouviu com serenidade e paciência. Pediu desculpas, que foram aceitas, Paul Macteus estava mais aliviado. Ademais, John reconheceu o erro e trouxe uma notícia boa, sua namorada tinha um primo, que tinha uma cunhada, que era vizinha de D. Gertrudes, tia de Solange da Farmácia, casada com Necão da Padaria, irmão de Dilva Valadares, que era noiva de Pindobácio Fontes, lateral-esquerdo no time de Chico Lau, pai de Flautiana Lau, prima de Aurélia Madureira, colega de catecismo de Ariosvaldo Pirilampo, colega de escola de Kowly Ronn, que viajou para Lençois com Tassão, que queixou Monalisa, manicure de Genoveva Flores, que foi comida em 2006 pelo Índio Tumbalalá, amigo de Marcos Sodré, que tinha uns conhecidos na secretaria de cultura do município, e que estes últimos iam dar uma força na gravação do primeiro cd dos Baitoll’s. Paul ficou empolgadíssimo com a idéia, e John num gesto de grandeza e amizade deixou a cargo do colega o desenho da capa do disco.

Paul Macteus ficou radiante com a notícia, e se dedicou com afinco a criar a capa do disco, foi uma semana inteira de pesquisa, o cara so falava disso, ficava todo o tempo livre na frente do computador pesquisando a imagem perfeita, buscando uma inspiração, uma inovação, tenha que ser uma capa criativa e original, diferente de tudo o que já tinha sido produzido. O prisma era a marca do Pink, figuras horripilantes eram usadas pelo Iron e pelo Judas Priest, um brasão seria uma boa, mas se lembrou que o Queens e o Pagan Altar já utilizaram este tipo de insígnia, o que fazer então? Teve muitas ideias, uma mais ridícula que uma outra: quatro penicos contendo cada um a foto de um integrante, um recorte de seu narigão, um monte de espermas, nada que se aproveitasse.
Quando sua família já estava começando a ficar preocupada com seu comportamento estranho (e desde quando alguma coisa é normal em Mateus?) eis que surge a grande sacada, uma capa simples e enigmática, sem nome e fotos de ninguém, ia ser de fuder, ia chamar a atenção, seria algo raramente visto. Fez um esboço dela no paint, um fundo totalmente negro, rasgado por uma faixa branca na diagonal, do canto esquerdo superior para o direito inferior, e no centro uma cruz vermelha. Que coisa mais horrorosa! Mas Paul Macteus se sentiu o máximo.

Para a sua surpresa geral, um mês depois, quando as cinquenta cópias do cd foram postas a venda num stand promocional da Cantoria de São Gabriel, a capa idealizada por Paul Macteus fora trocada por outra, totalmente diferente, um fundo vermelho, com faixas horizontais negras, outra coisa horrorosa. Paul Macteus mal pode acreditar, só podia ser um erro de impressão, uma pegadinha do Malandro, aquilo tinha que ser explicado. Desesperadamente saiu correndo em direção a casa do baterista da banda, Duca Starr.
- Duca Starr, Duca Starr, Duca Starr – berrava em agonia Paul Macteus na porta da residência do amigo.
- Duca não Starr – respondeu uma voz de dentro do prédio – Duca Starr na casa de Ró – completaram a resposta.
Ainda atordoado dirigiu-se a casa deste último, encontrando lá o Duca Starr:
- Duquinha, o que aconteceu com a capa de nosso CD?
- Duquinha é o caralho, larga de viadagem!
- Mas o que aconteceu com nosso CD?
- John disse que tiveram que mudar a capa.
- POR QUE??????????????????//
- Por causa do apoio político. Como foi a galera da secretaria municipal de cultura quem descolou a gravação tivemos que fazer uma propaganda discreta do partido do prefeito, daí a cor vermelha da capa.
- E as listas horizontais negras?
- Aí foi John Lennando quem inventou, e com o apoio de Tales Psicopata Harrison.
- ÃÃÃÃÃÃÃÃÃ, só podia ser John Lennando, ele me paga, isso é provocação por que o Flamengo ganhou do Vasco, ele vai ver só.
Chorando, Paul Macteus volta para casa.
Mas isso não ia ficar assim...

O show do grande lançamento do CD dos BAITOLL’S, que se chamava Ler Gibi, seria na Praça Cleriston, no primeiro dia de São João, o quarteto da rua Luís Viana Filho, teria a sua maior plateia, e Paul Macteus estava disposto a se aparecer mais que John Lennando, nesse dia iria a forra.
Logo no começo da apresentação, Paul Macteus surpreendeu a todos, público e banda, com um super solo no seu violão de babaçu com uma corda só, e foi muito escroto esse riff, Slash se tivesse visto, ficaria com inveja. A galera foi ao delírio, como Paul Macteus conseguiu fazer com uma só corda o que os outros virtuosos da guitarra não fazem com seis? Mas as surpresas não pararam por aí, John Lennando estava desafinadíssimo, Macteus modificou os arquivos com as músicas que Lennando dublava, e tinha incluído o solo dele, sem ninguém saber.
Depois de John Lennando ter interpretado Dig a Pony de forma medonha, alternado uma voz fanhosa, com estranhos agudos, Paul Macteus não pode deixar de dar uma alfinetada ao microfone, para todos ouvirem:
- Ta nervosinho com o público John Lennando? Ou é porque sua ada ta na plateia? Ou as duas coisas? – provocou com um riso cínico nos lábios.
Com a tiração de onda a galera foi a loucura, e Paul Macteus emendou outro solo incrível, se Adrian Smith visse se aposentaria.
A plateia ovacionava Paul Macteus, que de jubilo estava quase a gozar. John Lennando entendeu a jogada, o companheiro estava disposto a ridicularizá-lo em público, e logo ele, John Lennando, o astro da banda e que deixou de seguir carreira solo só para dar uma força para os amigos, isso foi demais, não se conteve e mandou essa:
- Macteus, vc ta querendo roubar a cena é?
- Não tou roubando porra nenhuma!
- Ta sim, vc sempre rouba!
- Tou roubando não porra!
- Ta roubando sim, vc rouba em tudo!
- Roubo não!
- Rouba sim, rouba no uno, no dominó, no xadrez, no play station 2 (incrível isso, mas ele consegue), e agora quer roubar a cena!
Paul Macteus não se controlou, jogou o caderno com as canções nas costas de John, que jogou de volta, e ato contínuo Macteus pegou seu violão rosa choque de uma só corda e partiu para cima de John, no que foi contido pelos outros músicos, e toda essa confusão ao som de Yellow Submarine.
E como isso é possível? Os músicos não estava tocando, e sim brigando, mas a música saia das caixas sonoras. Era um playback! Esses pilantras nos enganaram, pau nesses BAITOLAS galera.
Revoltada por te sido ludibriada a plateia começou a atirar pedras no palco, e muitos chegaram a subir no palanque para agredir os Baitoll’s, mas não lograram êxito pela fuga desabalada destes. O fim da banda não poderia ser pior, um grande barraco, e o mico da descoberta do uso do play-back. No outro dia, Paul Macteus ainda teve a cara de pau de marcar uma entrevista coletiva para explicar o fim da banda, mas suas declarações se limitaram a um plágio de uma frase de John, o verídico Jonh Lennon:

- The Dream is Over (O sonho acabou).

4 comentários:

  1. Cara, sensacional! Até mesmo o episódio do caderninho jogado furiosamente citado kkkkkk. Muito bom Daniel! Ri o tempo todo... kkkk

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  2. cara muito massa...morrir de rir...apesar de ser chamados por uns de jonh lennon e não de duca harrison como na historia.kkkkk..mas esses contos estão sensacionais

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  3. KKKKKKKKKKKKKKKKKK Ri deveras e já estou ansioso pra ler as próximas de vcs. Abraços !!! ^^

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