por Daniel Pablo
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A
vitória no poker foi o momento máximo de sua vida, extasiado, Mateus se sentia
no Nirvana, sentia seu corpo flutuar enquanto voltava para sua casa, o sol se
levantava no oriente, e sua luz doirava todas as coisas. Esse foi o alvorecer
mais dourado que se viu, tudo os que seus oclinhos de tartaruga viam, reluzia a
sua riqueza, sua embaçada estrela finalmente brilhava. Entrou em sua casa,
descuidado e distraído, mas estava tão leve que não vez o mais leve ruído.
Deitou-se em sua cama, olhava o teto e apesar de ter passado a noite em claro
na jogatina, não conseguia dormir, e nem estava cansado. Ficou devaneando
durante as primeiras horas da manhã, lembrando-se dos feitos de tão memorável
noite, na sua mente notas, moedas, fichas, cartas e um número: 6.127, dançavam.
Esses algarismos eram o premio de Mateus ganhou no jogo, incríveis seis mil,
cento e vinte sete reais. Para quem quase teve uma epifania com dez contos,
alguns milhares era como ganhar na loteria, ainda mais que fora uma conquista e
não uma esmola. Sentia-se poderoso.
Seus
devaneios foram interrompidos pelo grito histérico de Carla:
-
Mãinhaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Mateus não chegou em casa!
Mas,
Mateus não estava tranquilamente em sua cama, saboreando os louros da vitória?
Sim estava. Mas Carla ainda não tinha entrado no quarto, para ela o irmão ainda
não tinha regressado, pois sempre que este volta das bebedeiras faz muito
barulho, tem dificuldades de abrir o cadeado, demora a acertar o buraco da
fechadura, já na sala, esbarras nas coisas, e no banheiro chama Raul,
emporcalhando tudo. Só que esta amanhã a casa está em ordem e o banheiro limpo.
Só pode concluir a moça que seu mui querido irmão foi sequestrado, soltando o
berreiro por isso:
-
Mateeeeeeeeeuuuuuuuuuuussssssss onde estaaaaaaiiisssssssssss ??
O
escândalo traz Mateus de volta a realidade, e o aborrece muito. Sai do quarto
com cara de mau, de meter medo até nos brutos do Vegas Bar, e da uma enquadrada
na irmã:
-
Qualé? Qual foi? Que gritaria é essa? É para ficar caladinha viu?
Carla
impressionada com a atitude e o timbre de voz de Mateus baixa as orelhas e se
recolhe. Os pais de ambos presenciam a cena e se alegram muito, finalmente vêem
o filho caçula agir como um homem adulto. Ele é nova criatura agora, nesta
manhã ensolarada está mais calado, compenetrado, não ri muito, está mais
lacônico, não reclama e não pede nada.
Mas
sai pelas ruas e se enche de alegria, saltita pelas calçadas e da bom dia as
flores. Precisa urgentemente comemorar, mal chega a noite se dirige ao
restaurante mais sofisticado da cidade. Pede as mais finas iguarias e o mais
caro champanhe. Paga uma rodada de rum para todos os presentes, e estes saúdam
o novo rei da noite. A confiança e o brilho de nosso herói reluzem mais que a
taça de cristal que segura, contendo ela um bom vinho do porto. Convida garotas
para sua mesa, mas sua postura é outra, e as damas aceitam, janta agora em
ótima companhia. Conta suas façanhas com as cartas, impressiona suas novas
amigas. Ao final da ceia, escolhe uma e vai para o mais luxuoso hotel, mas
antes deixa rechonchuda gorjeta para o taxista que o conduzira. Na hospedaria
exige a melhor suíte. Do serviço de quarto, ordena canapés, caviar e mais
champanhe. Tem uma noite de delícias, a bela moça e lhe dar uvas na boca,
enquanto acaricia seu corpo. Come, bebe, e come (agora a mulher) muito bem. Dorme
num confortável colchão de molas, parece que está deitado em nuvens, e uma doce
brisa lhe alivia o calor, é a rapariga que sopra seu rosto enquanto sonha. E
sonha com cascatas de cachaças cristalinas, sonha com bordeis encantados, onde
as putas são as quatro damas do baralho, e todos os móveis são de marfim,
homenageando as pedras de dominó. Sonha com fontes em formatos de virgens, e
das suas bocas jorram líquidos diversos, mas nenhuma delas é água, e sim os
mais sublimes álcoois, nunca havia experimentando tão saborosos whiskies, nem
encorpados conhaques, nem tão cremosas cervejas, nem tão forte ParaTudo. Acorda
no outro dia, pela primeira vez nos braços de uma bela moça.
Está
decidido, experimentou um pouco do céu, não pode suportar mais a dura
realidade, precisa desfrutar perpetuamente as delícias da vida, e já tem os
meios para isso. Voltará as mesas de jogo, e jogará mais alto. Os neurônios do
homem normal anunciariam que os riscos são muito grandes, a sorte das cartas
sorri com escassez. Para a maioria apenas uma vez. Nos jogos de azar, os ganhos
são acontecimentos, mas perder, rotina. Mas Mateus está fora de si, quer
desfrutar de novo é que lhe foi negado por tanto tempo. Volta ao Bar, mas desta
vez foi diferente.
Está
tão confiante que esquece até de roubar, única vez que isso aconteceu na vida,
e aposta com arrojo. Nas primeiras partidas até que é bem sucedido, mas
conforme a noite avança, os adversários mais fracos são eliminados restando apenas
jogadores experientes, e aí a maré muda. Mateus começa a perder dinheiro
sistematicamente, há momentos em que pensa em desistir, e poupar o que ainda
lhe resta, mas ganha uma partida e recobra o ânimo, neste ritmo vai até chegar
novamente a mesa final, com apenas quatro campeões disputando o título supremo
da noite.
Nesta
decisão, novamente está o rival derrotado de sua primeira glória, e desta vez
ele está disposto a ir a forra. Dos quatro finalistas, Mateus é o que possui
menos recursos financeiros para apostar, e o revanchista o que possui mais. Com
tanto recursos ele manobra o jogo, eliminando outra vez os dois outros
concorrentes, mas deixando Mateus para o gran final. Como da primeira vez, faz
grande aposta e exige que nosso herói a cubra, mas este não tem a grana
suficiente (nem há cartas no chão que possam mudar sua sorte) explica o fato e
pede clemência.
Uma
sonora gargalhada geral ecoa pelo salão de jogos. Alguém lembra ao narigudo as
regras da casa, na mesa final apenas um pode sair com tudo, e o adversário não
tem tudo ainda, restam ainda alguns trocados com Mateus. Mas essa quantia não é
suficiente para cobrir aposta. Tenta argumentar. A risada agora é sinistra, os
brutamontes se aproximam tenebrosamente do nosso herói. Regras são regras meu caro novato, dê seu
jeito, aqui não gostamos de quem não segue as regras (ah se eles imaginassem o
que Mateus vez na primeira noite que veio ao cassino). O suor frio escorre da
testa do quixotesco filósofo, sente um pisão de toneladas no seu pé, uma mão
grossa e cabeluda lhe aperta o ombro, dói muito, sente uma baforada de fumaça
de cigarro na cara, alguém lhe apaga um charuto no braço, está preste a virar
picadinho se não cobrir a aposta, mas não há como fazê-lo. E agora?
-
Novato, tu não tem nada de valor contigo que possa lançar a mesa? –
pergunta-lhe o adversário.
A
indagação foi um alento, prontamente os ferrabrases se afastam, e Mateus saca
um celular.
-
Isto é suficiente? – pergunta ao outro jogador.
-
Não.
-
Mas ele é moderno, tem muita memória, você pode armazenar muitas músicas e usar
uma diferente a cada chamada – tenta valorizar seu objeto, é a única coisa de
valor que possuí.
- É
um bom celular – comenta um dos que assistem a partida.
-
Mas não é suficiente – sentencia o adversário.
-
Mas ele tem muitas musiquinhas legais, saca só – Mateus insiste, e acionar o
celular:
“mexe, mexe, mexe com as mãos chiquitas
Mexe, mexe, mexe com os pés chiquititas
...”
Nunca
o ditado “em boca fechada não se entra mosca” ou ainda, “é melhor ser mudo do
que falar besteira”, se aplicou tão bem em uma situação. Só mesmo um Zé Ruela
para tocar chiquititas no bar mais barra pesada do interior da Bahia. As
consequências não tardaram a aparecer:
-
Esse teu “celugay”, novo e ainda na garantia vale uns trezentos paus, mas
tocando esta merda de música não vale porra nenhuma, joga esta bosta na mesa, e
mais tudo o que você tem, e ligeiro se não quiser ficar sem os dentes – ameaçou
o bar-man caolho, já com um soco inglês na mão direita.
Mateus
esvaziou seus bolsos, colocou o celular, um calendário, a imagenzinha de Santo
Antônio, uma camisinha, um halls preto e um botão. Não foi suficiente para
cobrir a aposta, os caras do cassino se aproximaram novamente, desta vez já com
canivetes, e um deles portando um revolver. Será o fim do nosso amigo?
-
Tira a roupa e bota na mesa – ordenou o adversário.
Mais
uma vez Mateus foi salvo pelo gongo. Ainda tentou argumentar dizendo que estava
frio, mas lembram-lhe que ou cobria a aposta ou dançava. Prontamente tirou suas
vestes e pós na mesa.
-
Ainda não cobriu a aposta.
Mateus
quase chora com essa. E agora tou fudido, pensou. Começou a rezar e se
arrependeu profundamente do dia em que inventou de jogar apostado. Tentou ainda
uma última suplica:
-
E..., e... eu nã-nã-não tenho mais nada.
-
Ainda tem uma coisinha que eu quero, hehehehehe.
Ai
meus Deus, essa cara quer que eu aposte meu furico. Foi o único pensamento de
nosso amigo, estava quase a desmaiar diante de tão terrível perspectiva, mas o
adversário lhe esclareceu.
-
Não é nada disso que você esta pensando, eu quero é sua cueca, põem essa
ciroula na mesa, e eu considero a aposta coberta.
Sem
escolhas, nosso herói tirou o ultimo trapo que cobria seu corpo, ficou nu em
pelo, no meio de tantas pessoas de má índole, maior humilhação impossível. Mas dentro
de si, ainda mantinha uma esperança, ainda jogaria uma partida. Quem sabe não
ganho e recupero minhas roupas? Se vencesse, levaria também a pequena fortuna
apostada pelo adversário. Por que não ter esperanças?
E as
esperanças se converteram em quase certeza quando Mateus olhou suas cartas, um
double kings e um triple As, nem precisaria comprar cartas. Um riso safado se
formou em seus lábios. O adversário estava de cenho preocupado. Comprou uma
carta, mas seu semblante não melhorou. Agora a certeza de triunfo se
concretizou. Que noite emocionante, de tamanha reviravolta, estava prestes a
perder tudo, agora já sente o gostinho de champanhe na boca. Alguém lá em cima
gosta dos professores de filosofia.
O outro cara ainda pensou em desistir, mas foi
lembrado das regras pelos demais presentes. O narigudo não conseguia se conter,
se levantou e freneticamente sapateava. Mostrou suas cartas enquanto dizia:
-
Chuuuuuuuuuuuupaaaaaaaaaaaaaaa babaca! Se fudeu legal!
Uuuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii ! Adorei essa sua cara de bunda.
Otário!
Só
que era cedo para cantar vitória, enquanto Mateus esperneava e desmunhecava (e
fazia tudo isso pelado), o adversário, com a tranquilidade dos vencedores
veteranos, expunha o seu Royal Flush de copas. A sequencia mais poderosa do
pocker. Ato continuo, todos os presentes começaram a rir.
-
Esse cara é mesmo um palhaço, né galera? – Mateus ainda quis tirar onda,
supondo que todos riam com ele do adversário derrotado.
-
Cara, palhaço és tu. Aprende uma coisa, nunca comemore antes de ver as cartas
dos outros. Nunca ouviu falar em blefe?
Estavam
na verdade rindo dele. Mateus olhou as cartas do seu rival, viu o full house,
mal pode acreditar. Perdeu tudo, o dinheiro, a morenaça que traçaria mais
tarde, o White Horse, o celular (substituto daquele que despedaçou por cauda de
Carla), as roupas e a dignidade. Foram muitas frustrações para uma noite só,
seus nervos não aguentaram. Desmaiou.
Acordou
meia hora depois, um cão vira-lata lambia-lhe a cara. Onde estou quis saber?
Estava dentro de uma lata de lixo, no meio de um terreno baldio, só com a
cabeça de fora. O que aconteceu? Ainda estava zonzo. Perto dali, em um bar
gargalhavam. Viram só a cara daquele abestalhado quando descobriu que perdeu a
aposta? Mais risadas. Agora lembrou-se do que aconteceu. Ainda estava perto do
Cassino, zombavam dele. Levantou-se para ir para casa. Ainda estava nu. Os
malditos não tiveram pena de si, o despejaram como veio ao mundo, e assim terá
que andar pelas ruas da cidade. Pelo menos um pano de chão para se enrolar. Nem
isso lhe deram. Muita malvadeza. Agora o que resta é ir para casa. E quão
diferente é esta caminhada. Na primeira vez que regressou da casa de jogos,
andou de peito aberto sob a luz do sol, e o mundo parecia lhe sorrir. Hoje,
anda cabisbaixo e encolhido, busca as últimas sombras da noite que se encerra, envergonhado
de sua nudez. Melancolicamente regressa ao lar.
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Ontem foi sexta -feira 13. Dia de sorte para alguns. A exemplo de Zagalo, que sempre dizia Brasil Campeão tem 13 letras. Argentina Vice tem 13 letras também.
ResponderExcluirSo que para o narigudo 13 é um número macabro:
"Mateus se fudeu" tambem tem 13 letras
Acho que ele se decepcionou quando pediram só a cueca no fim... kkkk (comentário "a la Duca")
ResponderExcluirKKKKKKKKKKKKKKKKKK Daniel sempre me fazendo rir... Curte demais - e amei o Nelsão como música referência !!! ( =
ResponderExcluirAgora todos podem comentar, não precisa mais ter cadastro, conta no google, etc.
ResponderExcluirabraços!
Daniel Pablo
Cara, acho que a Flapress é uma instituição sim. E não meros maus profissionais isolados. Creio até que os citados maus profissionais sejam poucos, e que a maioria dos jornalistas é pressionada pelos editores para fazerem matérias tendenciosas.
ResponderExcluirSão inúmeros os exemplos de tentativa de manipulação dos leitores retratadas neste blog e em outros (Mundo Botafogo, AQUI POSSA, etc), como são coisas que acontecem reiteradamente e sempre estrategicamente nos momentos oportunos (Botafogo bem, matéria negativa, framerda mal, pesquisa de torcida), não podem ser frutos da incompetência e má fé de poucos. Acho que são ordens vindas de cima. Lembram do vídeo do Rizível Rizek falando que o BFR é mal visto pela imprensa? E da chamada que deram nele? O cara ia meter o pau na flapress, mas veio a ordem de cima e ele mudou de assunto.
Ademais, não creio que poucos jornalista tendenciosos sejam suficientes para fabricarem as duas maiores torcidas do país. Sim, mulambada e gambazada foram fabricados. É claro que as torcidas não poderiam ser iguais, uns teriam mais, outros menos torcedores, mas a desproporção dos gambas do Rio e dos mulambos paulistas frente aos demais é surreal, ainda mais se levarmos em conta que esta desproporção não está respaldada em títulos, podem até ter mais, mas não muito mais que os outros.
Se é certo que em número de “conquistas”, a deles possa ser maior atualmente, antes disso já eram os mais povudos. E como explicar isso? Por que nos anos 70 o menguim já era o mais popular se estava atrás dos outros três do RJ, e por que o gambá é o mais popular se até hoje tem menos títulos importantes que os outros três de SP? Simplesmente mídia. A mesma mídia que faz um Michel Teló da vida fazer mais sucesso que um Zé Ramalho, que um Engenheiros do Hawaii, etc, etc, etc.
Por fim, o fato de ter apenas dois times com grande torcida é flagrantemente mais lucrativo para a Globo. Será mais fácil fazer a cobertura, terá que gastar menos com os direitos de transmissão, além da certeza da audiência. Por isso a Globo tenta diminuir o Botafogo e outros clubes, e enaltecer seus queridinhos.
Abraços!
???????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????...que porra é essa ai
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